17 maio, 2008

Crônica dos braços não torcidos

Pessoas. Pernas em movimento. Dentes a mostra. Copos e fumaça entre os dedos. Muitas pessoas: festa.
Ele está distante. Ela também.
Está confusa e um tanto animada, talvez ansiedade para vê-lo. Talvez. Seus olhos não cruzaram com os dele até aquele momento.

Ele continua distante. Então ela o vê, corre e vai a seu encontro. Não abraça. Um balde de hidrogênio líquido cai sobre sua cabeça. Ela não se importa. Várias partes dela já estavam congeladas a tempos.
Ele permanece na pose, aliás, os dois. Dois corpos que ansiavam por se encontrar, mas não admitem. Nenhum braço é torcido.
Mas ele a observa, de longe. Todos os movimentos, todos os passos. Tudo. Cada gesto, cada palavra é gravada. Ele é sutil.
Talvez goste dela, talvez.

Quando estão sozinhos, os dois se entendem muito bem. Ali não é necessária nenhuma pose. Ali ele tira a máscara e desamarra os punhos. Ele a abraça e olha no fundo dos olhos dela.
Não é necessário nenhuma palavra.

Mas... isso é real???
...

Isso já faz muito tempo. Eles agora não se vêem mais. Encontros casuais, apenas. Ele mudou, ela também. Ela terminou o curso. Ele arranjou um bom emprego. Cada um com seus afazeres. Até que, um belo dia, ao cruzar a calçada, os olhos se encontram. Um risco de reconhecimento passa pelo cérebro de ambos. Um sonhos antigo, um sonho. Faz tanto tempo. Ela continua linda e ele aprendeu a erguer os olhos, mostrando todo o seu charme. Mas os olhos apenas se cruzam. Nada mais. Só o sonho permanece. Nada mais. O telefone não grita. A campainha não soa. Nada mais.